quinta-feira, 3 de abril de 2008

“QUE VENHA SENHOR, ENTRE NÓS O SEU AVIVAMENTO!”

“A igreja de Cristo é um hospital comum, em que todos estão nalguma medida doentes de um ou outro mal espiritual; para que possamos todos ter base para exercitar mutuamente o espírito de sabedoria e mansidão”. (Richard Sibbes)

Há um clamor entre os crentes sinceros de nosso país que pode ser ouvido a uma boa distância: “aviva-nos Senhor!”. Aqui em nossa igreja temos presenciado esse desejo estampado em grande parte do nosso povo, e temos encontrado desafios no meio dessa caminhada para evitar alguns mal entendidos.

Não podemos confundir “avivamento” com “pentecostalização”. Podemos até, para sermos sinceros com a história de evangelização de nosso país honrar a tradição pentecostal como um elemento de colaboração para que a nossa pátria esteja sendo evangelizada, mas temos de ser sinceros quanto aos seus exageros e manias perigosas, sobretudo de misturar vida de poder espiritual com o mero cumprimento de obrigações legalistas e comportamentais.

Há alguns que, levados pelo forte emocionalismo de seus discursos e ministrações pretendem levar o povo a um êxtase desnecessário, onde através de gritos e ditos proféticos (na realidade são arroubos inconseqüentes), visam à criação de um clima nem sempre espiritual, onde as pessoas choram, mas não de arrependimento de pecados, e sim, por serem conduzidas a uma febril consternação emocional e psíquica.

Avivamento também não pode ser limitado a um movimento denonominacional. Preocupo-me quando percebo alguns confundindo completamente os termos a ponto de acreditarem que o avivamento virá quando houver mudanças litúrgicas em nossas igrejas. Sou pastor de uma igreja com uma liturgia aberta, mas ando sempre preocupado com os excessos, policio a mim mesmo nesse quesito. Avivamento não pode ser um fim em si mesmo, desculpa para absurdos ditos nos cultos e expressões frívolas nos bancos!

Avivamento é sede de Deus. Avivamento espiritual acontece quando a igreja é tomada de choque pela maturidade cristã. Os valores são revistos quando passamos por um avivamento. Precisamos resgatar o tema da “espiritualidade cristã” em nossas leituras nesse tempo que vimos vivendo.

Estou na expectativa por aqui de começar a ler a monografia de mestrado do pr. Antonio Carlos da Costa com o título “As dimensões da espiritualidade reformada” (Editora Textus) em que o autor comenta sobre a obra de Martyn Lloyd Jones e o resgate da tradição calvinista de vida cristã.

Eu penso que devemos retomar essa tradição no pensamento teológico cristão. Espiritualidade tem a ver com o aprofundamento de nosso relacionamento com Deus que implica também no cultivo de um cuidado mais afetuoso das pessoas como “meninas dos olhos” de nosso Deus.

Por essa razão, tenho orado com Habacuque: “aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos...” (3.2). Tenho sonhado com um avivamento sem gritaria, atos proféticos (alguns deles são patéticos), palavras de ordem, canções que são mantras esotérico-evangélicos, enfim tudo o que temos visto em mídia e algumas vezes em comportamentos de crentes sinceros, mas equivocados.

Leonard Ravenhil, um conhecido avivalista americano em um de seus artigos (em 1959) cita a importância da redescoberta de uma vida de oração intensa para que haja abertura dos céus em um derramamento generoso do Espírito Santo sobre nossas igrejas em um avivamento que nos faça lembrar os dias áureos onde Deus descia para falar ao coração de seu povo: “Na oração, tratamos com Deus e coisas acontecem. Na oração, fome de ganhar almas é gerada; quando há fome para ganhar almas, mais oração é gerada. O coração que tem entendimento ora; o coração que ora adquire entendimento. O coração que ora, reconhecendo sua própria fraqueza, recebe força sobrenatural do Senhor. Oh, que fôssemos pessoas de oração, tal qual Elias – que era um homem sujeito aos mesmos sentimentos que nós! Senhor ajuda-nos a orar!”.

Eu tenho me apegado a muitos relatos de ricas reuniões de oração e o meu coração tem sido aquecido no desejo de viver esse clima em nossos encontros tanto na igreja local quanto em outros níveis de cooperação denominacional e interdenominacional. Tenho aprendido a sussurrar um verso do hino 116 do CC: “maravilhas soberanas outros povos tem, vem derrama a mesma benção sobre nós também”.

Creio que o Espírito Santo quer nos levar a três decisões que me parecem radicais e necessárias:

a) Temos de estar dispostos a levar a leitura da Bíblia mais a sério.

Temos de avançar no entendimento de que a Bíblia não pode ser apenas o livro de nossa cabeceira, mas deve ser o parâmetro para todas as nossas decisões e questões existenciais. Ela tem sido regra de fé e prática nos lábios, mas infelizmente seus conceitos têm se distanciado do coração de grande parte dos crentes. Há inclusive em alguns dos nossos seminários, pouco espaço na grade curricular para matérias tipicamente bíblicas, sobretudo se o interesse da instituição for o reconhecimento do Ministério de Educação. Tenho para mim que estamos ouvindo o som da trombeta e nos curvando perigosamente aos pés da estatua erigida por Nabucodonozor (Daniel 3). Temos nos deliciado com as benesses do poder, e estamos perdendo o vigor profético.

b) Precisamos trabalhar por uma adoração menos mística e mais inclusiva.

A tendência musical de nosso tempo é viciada por mantras e extravagâncias. É assustador, mas há poucas letras sérias na mídia evangélica. Daí termos de resgatar a rica hinódia da nossa história denominacional e ter um cuidado no uso de cânticos com letras pobre e intimistas. João A. de Souza Filho comenta que “alguns dos dirigentes de adoração trazem mantras enrustidos em seus cânticos, que deixam o adorador ‘prostrado’, não no sentido de prostração voluntária, de quebrantamento, mas de adoração depressiva, compulsória, em que o lamento e dor não dão espaço à alegria e ao gozo. Ao fim de uma hora ouvindo certas melodias, sentimo-nos verdadeiros trapos humanos. Seria bom se alguns dirigentes de louvor estudassem mais a fundo o poder oculto da música. A verdadeira adoração tem esse ‘fundo’ de tristeza e quebrantamento, mas também ‘picos’ de gozo e alegria”.

c) Precisamos de púlpitos mais ousados na exposição bíblica.

Tenho incentivado alunos de seminários e pastores amigos a dedicaram-se a exposição bíblica. É importante salientar que “pregação expositiva” não é um método de pregação, e uma postura em relação ao texto bíblico e à sua autoridade. Só se dispõe a pregar “todo o conselho de Deus” quem segue em seu programa de pregação um rigor de expor verso a verso a Bíblia em sua congregação. A alma do pregador precisa estar constantemente encharcada de verdades bíblicas. Isso me faz lembrar uma recomendação de John Piper, pastor batista em Chicago, “ao dizermos ao povo alguma coisa, sem demonstrá-la no texto, estamos simplesmente impondo sobre ele a nossa autoridade. Isto não honra a Palavra de Deus ou o trabalho do Espírito Santo. Quero encorajá-los a depender do Santo Espírito, saturando sua pregação com a Palavra por ele inspirada”.

Que venha o verdadeiro avivamento entre nós! E que ele leve os nossos crentes a superlotarem a EBD, cultos de oração, programas evangelísticos, projetos sociais, seminários, e também haja entre nós a quietude do Espírito passeando em nossos encontros de adoração.

Deus quer ser encontrado no sossego de nossa alma. Afinal de contas, somos dEle e para Ele retornaremos!

Aviva Senhor a sua obra em nosso meio, e que através deste despretensioso artigo sua vida seja levada a dar glória a Deus e a buscar com sinceridade o frescor do Senhor em sua vida devocional, desembocando em uma vida inteira dedicada ao Senhor com profunda intimidade e proximidade espiritual.